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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Carta Fórum das Artes lida para gestores da SECULT em 23/10/2017





A partir de 2007, a Bahia finalmente se alinhou em termos de políticas culturais, com a esfera federal, que vinha avançando desde 2003. Um claro sinal desse alinhamento foi a criação de uma Secretaria de Cultura autônoma, separada do Turismo. Outra demonstração de que a política cultural estava sendo levada a sério foi a indicação do Secretário de Cultura (Márcio Meirelles) vindo do próprio campo cultural. Era uma Secretaria com capacidade real de trabalho, que contava com orçamento, com autonomia para montar sua equipe e com pautas trazidas pelo próprio campo.
Foram criadas instâncias de consulta, participação e controle social, como as Conferências de Cultura, os Encontros Setoriais, os Colegiados Setoriais, o Plano Estadual da Cultura, a Lei Orgânica da Cultura. Foi instituída uma política efetiva de fomento, com a ampliação de editais, com a alteração do funcionamento do FCBA, que deixou de financiar projetos da própria secretaria, para tornar-se mecanismo de fomento à produção do estado, resultando em descentralização de recursos e ampliação de projetos, estéticas, segmentos e proponentes.
Depois de mais de 30 anos de existência da Fundação Cultural do Estado da Bahia, vimos pessoas representativas das suas áreas artísticas ocupando os quadros de gestão. Vimos políticas para as artes pautadas no diálogo com a sociedade, pautadas por pensamentos democráticos. Em quatro anos, toda a estrutura cultural do estado se transformou. As mudanças foram significativas, relacionadas, sobretudo, à compreensão do papel do Estado enquanto formulador de políticas públicas em diálogo com a sociedade civil e a classe artística.
Estávamos ainda dando os primeiros passos nos avanços, quando a falta de reconhecimento à pasta da cultura começou a se evidenciar particularmente desde o início da gestão de Rui Costa (2015). O que vemos desde então é o desmonte de toda a política pública para a cultura, que avançava na Bahia.
Ainda estávamos tentando lidar com o baixo orçamento; com a falta de concurso público para a Fundação Cultural, que tem um quadro funcional insuficiente, abandonado e que não foi qualificado ao longo do tempo. Também com a falta de diálogo entre Secult e Sefaz; com a falta de diálogo entre as próprias vinculadas da Secult; com as crises de representatividade dentro da própria classe; com a nossa falta de maturidade democrática, quando começamos a perder tudo.
Perdemos os Salões Regionais de Artes Visuais, o Porta aberta para as Artes Visuais, o Festival Nacional 5 Minutos, o Quarta que Dança, o Núcleo TCA, o Mestres da Cena, o Verão Cênico, o Novembro da Música, Programa de Apoio às Filarmônicas, o Circuito do Samba, o Conexão Vivo (parceria Vivo), o Sua Nota é um Show (parceria SEFAZ). Perdemos praticamente todas as instâncias de consulta, participação e controle social – as Conferências de Cultura, os Encontros Setoriais – e os espaços de participação que sobraram estão deliberadamente enfraquecidos, desarticulados e raquíticos, numa ostensiva violação da Lei Orgânica da Cultura da Bahia.
Rui Costa foi eleito apoiado no discurso da continuidade e o recente período com o professor e poeta
Jorge Portugal à frente da SECULT (2015) se caracterizou pela falta de projeto, de capacidade de escuta e de autonomia para formar uma equipe. Nenhum projeto ou iniciativa relevante foi levado adiante. A falta de diálogo se instalou. A FUNCEB foi desempoderada e desmantelada, ficando sem orçamento e sem pessoal suficiente. Nos próximos meses, mais de 100 funcionários permanentes serão aposentados e a FUNCEB corre o risco de ser uma casca oca, inoperante, fragilizada e fácil de derrubar. O número de cargos de confiança diminuiu e o orçamento da Funceb para investimentos foi reduzindo progressivamente, chegando a ser, em 2016, cinco vezes menor que em 2008.
Perdemos o caráter sistêmico que a cultura vinha ganhando. Perdemos a compreensão do papel do Estado enquanto formulador de políticas públicas em diálogo com a sociedade. Todas as perdas estranhamente alinhadas com o que vem acontecendo na esfera federal, sendo este um governo de oposição ao golpe, que deveria estar gerando cultura de resistência.
Os poucos cargos da SECULT e FUNCEB parecem estar sendo cada vez mais ocupados por pessoas que não são da área da cultura, mas sim indicações políticas, vide caso de cargo de coordenação da Diretoria de Espaços Culturais, amplamente divulgado na imprensa e redes sociais, além de outros mais importantes na estrutura de poder.
No que se refere ao FCBA, principal pauta deste Fórum no momento, diferente do que vinha acontecendo, em 2015 a SECULT lançou um único edital, o “Agitação Cultural”, que logo se tornou conhecido como “Aberração Cultural”, que já nasceu distorcido, executado às pressas, num processo sem diálogo, sem acordos, do qual a classe artística saiu desgastada e enfraquecida. Isso não é fomento. Chegamos a este ano sem nenhum novo edital. Sem diálogo. Sem transparência.
Esse parece ser o principal legado do atual governo: a falta de diálogo. E nós, do Fórum das Artes, não queremos esse legado. Entendemos que os dirigentes e gestores devem ser representantes da classe artística e da sociedade civil na estrutura do governo - e não representantes de partidos trancados em seus gabinetes, sem relação com a área e sem diálogo com a classe e a sociedade. Nós, do Fórum das Artes, entendemos que a recente mudança de comando na SECULT pode ser uma oportunidade para a retomada de um esforço conjunto de implementação de políticas públicas efetivas para a cultura e, sobretudo, para as artes.
É com esse propósito que aqui pautamos, prioritariamente, a necessidade urgente de uma revisão no FCBA e retomada do diálogo com a SECULT, assim como o fortalecimento da FUNCEB enquanto instituição responsável pelas políticas para as artes.

Sejam bem vindos!